Desconforme-se: Como Romanos 12.2 Desmonta a Cultura do Relativismo

Introdução

Vivemos em uma era marcada pelo relativismo, uma cosmovisão que nega a existência de verdades absolutas e sugere que o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, dependem do indivíduo, da cultura ou do contexto. Frases como “cada um tem sua verdade” ou “o que é certo para você pode não ser para mim” refletem essa mentalidade, que permeia a cultura contemporânea. Como cristãos, somos chamados a resistir a essa corrente, conforme Romanos 12:2 nos exorta: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (NVI). Este estudo explora como Romanos 12:2 confronta o relativismo, oferecendo um chamado à desconformidade com a cultura e à transformação pela verdade absoluta de Deus.

O Contexto de Romanos 12:2

Romanos 12 marca uma transição na epístola de Paulo, passando de verdades doutrinárias (capítulos 1–11) para aplicações práticas (capítulos 12–16). Após expor a doutrina da justificação pela fé, a soberania de Deus e a salvação pela graça, Paulo orienta os cristãos romanos sobre como viver à luz dessas verdades. Romanos 12:1-2 estabelece o fundamento para a ética cristã: uma vida de adoração racional, oferecida como sacrifício vivo, que rejeita os padrões do mundo e busca a vontade de Deus.

O versículo 2 é central: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente.” Aqui, Paulo usa o verbo grego syschematizesthe (traduzido como “amoldem”), que implica conformar-se externamente a um padrão ou molde, como se fosse moldado pela cultura. Em contraste, metamorphousthe (traduzido como “transformem-se”) sugere uma mudança interna e profunda, semelhante à metamorfose de uma lagarta em borboleta. Essa transformação ocorre pela “renovação da mente” (anakainosis), um processo contínuo de alinhamento com a verdade de Deus, que capacita o crente a discernir Sua vontade.

O Relativismo como Padrão do Mundo

O relativismo, especialmente em sua forma pós-moderna, é um dos “padrões deste mundo” contra o qual Paulo nos adverte. Ele nega verdades absolutas, afirmando que a moralidade e a verdade são subjetivas e dependem de perspectivas individuais ou culturais. Essa visão é sedutora porque promove tolerância e liberdade pessoal, mas leva a consequências graves:

  1. Relativismo Moral: Sem absolutos morais, o certo e o errado tornam-se preferências pessoais, minando a base para justiça e ética. Por exemplo, ações como roubo ou mentira podem ser justificadas se “parecem certas” para alguém.
  2. Relativismo Epistemológico: Se a verdade é relativa, não há padrão objetivo para conhecimento, o que enfraquece a confiança em fatos e na revelação divina.
  3. Fragmentação Cultural: O relativismo erode valores compartilhados, promovendo divisão e confusão, como visto em debates sobre questões éticas contemporâneas.

Romanos 12:2 nos chama a rejeitar esse padrão, não nos conformando a uma cultura que exalta a subjetividade acima da verdade de Deus.

A Resposta Bíblica ao Relativismo

Romanos 12:2 oferece uma resposta direta ao relativismo, apontando para a verdade absoluta de Deus como o padrão para a vida cristã. Vamos analisar o versículo em três partes:

1. “Não se amoldem ao padrão deste mundo”

Paulo reconhece que o mundo (aion, “era” ou “sistema”) exerce pressão para moldar o pensamento e o comportamento dos cristãos. Essa pressão é vista hoje na aceitação do relativismo como norma cultural. Colossenses 2:8 adverte: “Cuidado para que ninguém os escravize por meio de filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.” A cosmovisão relativista, com sua rejeição de absolutos, é uma dessas filosofias.

A ordem de não se amoldar implica uma resistência ativa. Em Tiago 4:4, lemos: “Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus.” Como cristãos, somos chamados a viver como estrangeiros neste mundo (1 Pedro 2:11), mantendo nossa identidade em Cristo.

2. “Transformem-se pela renovação da sua mente”

A alternativa à conformidade é a transformação, que começa com a renovação da mente. Efésios 4:23-24 complementa: “Serem renovados no modo de pensar e no proceder, para se revestirem do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.” Essa renovação é um processo conduzido pelo Espírito Santo, através da Palavra de Deus.

A Bíblia é a fonte da verdade que renova a mente. João 17:17 diz: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” Na teologia reformada, a doutrina da Sola Scriptura enfatiza que a Escritura é a autoridade suprema para fé e prática (What is Reformed Theology?). 2 Timóteo 3:16-17 afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.”

Ao meditar na Palavra, o cristão alinha sua mente com a verdade de Deus, rejeitando as mentiras do relativismo. Salmos 119:105 declara: “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho.”

3. “Para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”

O resultado da renovação da mente é o discernimento da vontade de Deus. O verbo grego dokimazo (“comprovar”) implica testar e aprovar algo como genuíno. A vontade de Deus é descrita como “boa” (moralmente correta), “agradável” (aceitável a Deus) e “perfeita” (completa). Isso contrasta diretamente com o relativismo, que carece de um padrão objetivo para avaliar o que é bom ou certo.

Filipenses 1:9-10 reforça: “Esta é a minha oração: que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor.” O cristão transformado não apenas conhece a vontade de Deus, mas a experimenta em sua vida, vivendo de acordo com Seus absolutos.

Como Romanos 12:2 Desmonta o Relativismo

Romanos 12:2 desmonta o relativismo ao afirmar:

  1. A Existência de um Padrão Absoluto: A “vontade de Deus” é o padrão objetivo para a vida, em oposição aos padrões flutuantes do mundo. Isaías 55:8-9 diz: “Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos, declara o Senhor.”
  2. A Objetividade da Verdade: A renovação da mente pressupõe que a verdade é conhecível e encontrada na Palavra de Deus. João 8:31-32 promete: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.”
  3. A Necessidade de Transformação: O relativismo aceita o indivíduo como ele é, mas o evangelho chama à transformação. 2 Coríntios 5:17 afirma: “Se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas velhas já passaram; eis que surgiram coisas novas!”
  4. A Rejeição da Conformidade: O relativismo incentiva a adaptação à cultura, mas Romanos 12:2 exige desconformidade. Gálatas 1:10 questiona: “Acaso estou buscando a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens?”

Aplicações Práticas para a Vida Cristã

Romanos 12:2 não é apenas teórico; ele tem implicações práticas para enfrentar o relativismo:

  1. Estudo da Palavra: Dedique tempo diário à leitura e meditação na Bíblia para renovar a mente. Salmos 1:2 diz: “Sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.”
  2. Discernimento Cultural: Avalie criticamente as mensagens da mídia, educação e cultura à luz da Escritura. 1 João 4:1 exorta: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus.”
  3. Testemunho Fiel: Viva de modo que sua vida reflita a verdade de Deus, mesmo quando contraria a cultura. Mateus 5:16 diz: “Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus.”
  4. Defesa da Fé: Esteja preparado para explicar por que a verdade bíblica é superior ao relativismo, com mansidão e respeito (1 Pedro 3:15-16).

Conclusão

O relativismo é um padrão do mundo que promete liberdade, mas entrega confusão e vazio. Romanos 12:2 nos chama a desconformar-nos dessa cultura, transformando-nos pela renovação da mente e vivendo segundo a vontade de Deus. Como cristãos, nossa confiança está na Palavra de Deus como a fonte da verdade absoluta, que nos guia em um mundo de incertezas. Que possamos, pela graça do Espírito Santo, viver como novas criações, rejeitando o relativismo e proclamando a verdade de Cristo com ousadia e amor.

Referências Bibliográficas

Relacionados